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O Mundo Depois de 07/04/2018

COLUNA POLÍTICA

 

 

Inegável e indelevelmente, o dia sete de abril de dois mil e dezoito ficará registrado, no coração e na memória de muitos, como um dia a ser lembrado. Foi neste dia que ocorreu, pela vez primeira, a prisão de um ex-Presidente brasileiro, durante o regime democrático: Luis Inácio Lula da Silva, o líder mais popular do país, foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro, em cumprimento a um mandado expedido pelo Juiz Federal Sergio Moro (uma espécie de Elliot Ness tupiniquim). Para os correligionários do ex-sindicalista, um dia triste e obscuro; para os seus adversários, um dia para soltar fogos de artifício (tanto que, de fato, o fizeram).

 

Sem adentrar no mérito da questão, há muito esmiuçado pelos Ministros dos Tribunais Superiores pátrios, gostaria de ressaltar dois aspectos que me parecem bastante importantes, neste enredo. O primeiro deles diz respeito à ousadia com que se comportaram o ex-Presidente e os principais líderes do seu partido. Tendo criação germânica, sempre aprendi que devemos tomar o máximo cuidado para não fazer nada errado e que, caso tenhamos a desventura de fazê-lo, devemos procurar, o mais brevemente possível, uma forma de reparar o dano; entretanto, caso a tragédia se avolumasse mais ainda e chagasse às barras da Justiça, deveríamos cumprir as ordens judiciais imediatamente. Pois parece que tal não foi a criação dos personagens envolvidos, os quais praticamente deram de ombros à ordem judicial e continuaram executando o seu próprio roteiro, numa espécie de “blindagem pragmática”. Lula então se refugiou no Sindicato dos Metalúrgicos (e eu nem sabia que sindicatos eram, de fato, verdadeiras embaixadas); os militantes e seguidores cercaram o local; e ficou criado o impasse. Depois de um longo ato político, de várias reuniões e de muita paciência da Polícia Federal, o ex-Presidente “se entregou” às autoridades, numa sequência de eventos ao melhor estilo Tarantino. Se, por um lado, ficou a certeza da supremacia da lei, ficou, por outro, a constatação de que “uns são mais iguais do que outros” (pois ao cidadão anônimo é negado o direito de “refúgio”).

 

 

O segundo ponto deste comentário é a vida que segue. Como ficará a Operação Lava-Jato, depois da prisão de um dos seus supostos líderes? Qual será o ímpeto para a punição de outros líderes, sobretudo quando se tratarem de políticos filiados a partidos mais “tradicionais”? Sempre combati veementemente a tese de que se tratava de um complô para atingir Lula, mas não posso negar que a boa vontade com outros “caciques” chega a ser constrangedora. Lula e Sergio Cabral parecem ter sido escolhidos como “paradigmas”, no processo de moralização da vida pública brasileira. E é natural que o sejam, diante do grande número de acusações a que respondem. Mas não podem ser destinatários únicos da gana punitiva do Estado, vez que outros políticos, pertencentes a outras vertentes ideológicas, também vêm aparecendo nas delações e/ou investigações. Pau que bate em Chico, pois, precisa bater em Francisco.

 

 

Democracia não se faz com heróis ou cavaleiros solitários; faz-se com uma nação politizada, consciente e disposta a pensar coletivamente. Lembremos que movimentos “radicalmente contra”, muitas vezes, se tornam “umbilicalmente a favor” dos poderosos, quando são movidos por interesses escusos. Cabe a cada um de nós, mais do que garganta afiada, ter coração puro e mente crítica.

 

Artur Otto Niebuhr

Formado em Direito pela UNIVALI – Especializacão em Direito Administrativo pela FURB.  Analista Judiciário – Justiça Eleitoral

 

COLABORADOR – GIRO DE NOTÍCIAS

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