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Por que o técnico não tira o Otacílio?

PADRÃO COLUNA DA SEMANA

 

 

Aquela cena ainda está viva na minha mente. Idos de 1993, jogo do Palmeiras no antigo Parque Antártica, o time em crise, pressão total sobre o técnico Otacilio Gonçalves (in memorian). Ao longo de todo o estádio, faixas com os célebres dizeres: “fora, Otacílio”. Lá em casa, na sala de TV, estávamos eu, meu querido pai e Miriam (namorada à época, atualmente esposa). Sem mais cerimônia, Miriam se vira para mim e dispara: “por que o técnico não tira logo o Otacílio?”. Depois de muitas gargalhadas, expliquei que não seria possível realizar o desejo de minha amada, pois o tal do Otacílio era o próprio técnico.

 

Cenas como esta compuseram e compõem a minha história com Miriam. A história de um casal que se conheceu, namorou por muito tempo e casou. Impossível não enfrentar situações engraçadas e tristes, dores, alegrias, jantares, brigas, gafes, enganos, desenganos, telefonemas, saudades, gripes, filhos cansativos, cães doentes, beijos, abraços e desejos. De tanto me conhecer, Miriam já sabe que jogar vídeo-game é sinal de estresse absoluto; e eu já me acostumei com o estranho fato de ela gostar de comer pão em pleno rodízio de carnes (vai entender …). Isso só é possível porque nós permitimos nos conhecer e ser conhecidos, porque abrimos a nossa concha para a perigosa (e prazerosa) influência das marés. Isso só é possível porque amamos.

 

Olho com muita tristeza para os que defendem os “relacionamentos múltiplos” ou o moderno “poliamor”. Não por uma questão de falso moralismo, religiosidade ou puritanismo, embora eu defenda e viva (com muito orgulho e nenhuma vergonha) os valores cristãos. Mas olho com tristeza porque estas pessoas estarão perdendo, ao buscarem a intensidade da volúpia e do descompromisso, o melhor dos relacionamentos. Estarão perdendo o comprometimento, a cumplicidade, a pessoalidade, a lealdade, o continuar caminhando mesmo em meio às diferenças.

 

Sexólogos dizem que o “poliamor” sempre existiu, pois os coronéis e senhores feudais sempre tiveram as suas amantes. Também dirão que ninguém é obrigado a se dedicar exclusivamente a outro ser, pois o amor (ou seria desejo?) não pode ser contido ou “enquadrado”. Vou respeitar as opiniões contrárias, embora não concorde com elas.

 

Quero deixar apenas a minha posição, humilde e serena. Posição de um homem fiel, monogâmico, heterossexual e profundamente feliz. Agradeço a Deus, todos os dias, por ter começado a minha história de amor com as mãos dadas, ter conversado, ter dado um beijinho, ter olhado no olho, ter suspirado, ter desejado, ter permitido o desejo, ter sonhado, ter planejado, ter casado. Não conheço todas as mulheres do mundo, mas a minha mulher … ah … a minha mulher eu conheço muito bem. E não preciso de mais nenhuma para me realizar. Aliás, o que me realiza é saber que a minha amada me conhece por inteiro e que eu a conheço integralmente; é saber que, embora conversemos muito, basta um olhar para nos entendermos. E, mais do que isso, é ter a certeza de que deixaremos um belo exemplo para os nossos filhos;

 

Amar é algo tão abstrato que não conseguimos traduzir; mas, ao mesmo tempo, algo tão concreto que só adquire sentido quando conseguimos praticar.    

 

Artur Otto Niebuhr

Formado em Direito pela UNIVALI – Especializacão em Direito Administrativo pela FURB.  Analista Judiciário – Justiça Eleitoral

 

COLABORADOR – GIRO DE NOTÍCIAS

 

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